Friday, April 27, 2007

Eu nunca tive muita paciência com Sofia Coppola. Sim, seus filmes são bons. Gosto principalmente da maneira que ela transmite emoções juvenis. Eles são bonitinhos, são suaves e são delicados. Mas são o tempo todo bonitinhos, suaves e delicados. Tudo ao mesmo tempo. O tempo todo. Mesmo assim, sempre desconfiei que ela estava no ramo certo: ser filha de Francis Ford Coppola. Daddy Coppola.

Tenho que confessar que só fui ao cinema assistir à Marie Antoinette, porque acreditava que, se a queridinha dos indies tinha gerado tantos discursos inflamados, ela poderia, talvez, ter se destronado do posto de Monarca da auto-indulgência cinematográfica e isso me interessaria. Acreditava que dessa vez ela tinha dado sua cabeça à caça e que tinha arriscado alguma coisa. Quel betise!

As imagens iniciais mostram a linda Versailles sob créditos rosa e preto ao estilo 80’s pós-punk e ao fundo "Natural’s Not in it," do Gang of Four. A sugestão fica clara até para os mais distraídos. Sim, estamos num clipe. O filme não briga com tradições e mostra de maneira vazia e quase sem sentido a vida impetuosa da rainha. Casos amorosos extra-conjugais, um casamento não consumado por 7 anos, festas, sapatos, doces e jogos de azar. Tudo menos a guilhotina.

Falar que o filme é politicamente irresponsável é reforçar o óbvio. Um pleonasmo. A força histórica dele poderia se resumir à um rodapé de apostila em fonte 8. Mas será que não está aí sua melhor qualidade?

A diretora declarou em entrevista que não queria fazer um retrato frio e detalhado sobre o reinado da rainha-adolescente, mas que seu objetivo era fazer o público sentir o que era estar em Versailles durante aquele periodo e poder se perder naquele mundo. E nisso ninguém pode duvidar que ela consegue.

Passados 123 minutos da película, eu estava num inconsequente mundo cor de rosa, queria beber champagne e comer morangos com creme. Queria ter um Petit Trianon pra chamar de meu. Estava preocupada com meu cabelo. Queria ler Rousseau. Cheguei até mesmo a torcer para que nossa Paris Hilton do século XVIII ficasse com o tenente-galã durante a música do Bow Wow Wow. E uma amiga muito próxima jura que viu um all-star azul entre versões extravagantes dos já extravagantes Manolo Blahniks.

Talvez se os membros da Revolução Francesa tivessem sido forçados a ouvir Adam and the Ants e New Order, a decaptação teria acontecido muito tempo depois.


Let them eat cake!