Tuesday, September 05, 2006


Não consigo pensar em mais nada por nós dois.
Fala, então.
Já não sei o que fazer com as mãos.
Acha que vai chover amanhã?
Eu não gosto muito de chuva.
É, eu sei. Mas preciso perguntar.
Me desculpe.
Só vejo bordas.
Preenche.
Tanto melhor se for com alguma coisa que não signifique nada.
É.
Guardemos, então, o resto.
Ok.
Combinado assim.
Ainda bem que concordamos.
Isso.
Mas e qual a graça?
Sobreviver, talvez.
Eu mantenho meu pé atrás.
Eu os dois.

Ou nenhum.
Sweet dreams are made of this
O tarado do Rafa era gay. Morava em São Paulo e era carinhoso. Era feito de palavras escolhidas. Inventado. Ativo, e quase viril, o tarado do Rafa tinha certezas.
O meu tarado é intelectual. Vai para a zona sul da cidade assistir filme cult chinês prêmiado em Berlim. Educado, ele pede desculpas ao ser percebido. Troca de cadeiras porque não quer incomodar. Não precisa se tocar.
Tenta te alcançar com uma desculpa plausível. Não faz movimentos bruscos ou grosseiros. O meu tarado era diferente. Ele não deixava ser desgostado. Ele tinha medo do lanterninha. Ele simplificava tudo. Ele pervertia até mesmo os pensamentos mais obscuros.
Ele inverte o consenso e age como um cavalheiro. Era incômodo como qualquer um de atos falsos e deliberados. Era sincero em seu disface. Usava um casaco pendurado nas costas. O meu tarado era solene.
Ele tinha tesão na melancia do filme. Ele via na experiência erótica-lúdica-cômica da melancia um motivo pra se exitar. Ele existe.