Tuesday, February 19, 2008

Eu descobri que o amava no minuto que o vi naquela igreja. Ele suava no smoking alugado e um frio me subia lentamente a espinha, enquanto a noiva caminhava pelo corredor.

Eu tive certeza de que ele era o amor da minha vida

Alguns anos se passaram. Vários meses. Muitos dias. Mas eu não percebia. Não sabia que meu descaso estava deixando que o amor da minha vida fosse embora. Eu estava praticamente o empurrando para um precipício. Fundo demais para que eu pudesse mergulhar.

Saíamos todos os fins de semana. Ele me contava todos os seus segredos. Eu contava a maioria dos meus. Dividíamos incertezas e eu o ajudava em projetos que nunca iriam sair do papel. Algumas vezes planejávamos dias brilhantes. Muitas vezes marcamos uma viagem à Europa.

Ele reservava os melhores filmes para assistir ao meu lado e confessava em quais ele chorava escondido. Pedia que eu me interessasse por seu novo livro e queria a minha opinião em todos os seus textos.

Compramos juntos os móveis de sua casa nova. Eu via sua alegria ao dividir comigo seus medos e a insegurança em relação à cor do sofá. Eu sabia que uma chaise long de zebra jamais ficaria bem com aquele sofá quadriculado. Comprei umas almofadas floridas para sua sala e umas pequenas caixas para sua namorada.

Meu vestido era assinado por um dos estilistas mais badalados do momento e minha maquiagem, naturalissima, tinha sido feita para dar aquele look de quem acabou de sair do banho. Comentei com uma amiga ao lado sobre o cabelo da mulher da fileira 3. Ela não achou engraçado. Nesse dia eu tinha recebido um aumento. Mas ainda não tinha contado para ninguém.

Lembrei que ele tinha prometido instalar o programa de gravar CD no meu computador. Enquanto eu não tivesse o programa, eu teria que deixar minhas fotos em seu computador. Mas ele só voltaria daqui a 1 mês de lua de mel. Essa seria a primeira vez que nos separaríamos.

Eu queria fugir. Jogar fora todos os presentes que já tinha dado. Dizer que a decoração estava uma lástima e acabar, de uma vez por todas, com aquela farsa que estava sendo montada em frente a tantas pessoas. Queria ser mais Fiona Apple e menos Charlotte Ginsburg. Mas sorri.

Olhava com descrença e não entendia o porquê de nada. Ele que nunca quis casar. Que tinha horror à festas grandiosas. Ele que tinha sonhado estudar em Paris e que sempre tocava guitarra com os olhos fechados.

Mesmo ali, eu ainda não acreditava. Eu precisava de uma prova mais definitiva que toda aquela cena. Passei todo o tempo esperando um final cinematográfico. Olhava todo o tempo para a porta achando que dela entraria alguém para me tirar do pesadelo. Alguém para dizer que aquilo não poderia acontecer.

Esperei que o fim da cerimônia estivesse perto, para que eu tivesse certeza de que a perda era realmente um fato consumado. Eu queria provas. Queria, também, testemunhas.

Foi chegando à hora dos cumprimentos e eu estava em uma posição que todos notariam se eu fosse embora. Então fiquei.

Ali, naquela igreja, eu tive certeza de que ele era o amor da minha vida.


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